"Jetzt musste die Welt versinken, Jetzt musste ein Wunder gescheh'n."

"Il ne faut pas avoir peur."

15 February 2008



[..colossu (kolossôs.[



'é bom estarmos apenas simplesmente felizes, é um bocadinho melhor sabermos que estamos felizes; mas compreender que estamos felizes e saber porquê e como, de que maneira, graças a que encadeamentos de acontecimentos ou circunstâncias, sabê-lo e mesmo assim estarmos felizes, estarmos felizes no estar e no saber, bem, isso transcende a felicidade, isso é beatitude, e se possuímos algum bom senso devemos matar-nos ali, no momento, e acabar com o assunto'

'via o aspecto humorístico de tudo, o que é a verdadeira prova do sentido do trágico'

'manter a mente vazia é uma proeza, e para mais uma proeza muito saudável. estar silencioso o dia inteiro, não ver nenhum jornal, não ouvir rádio, não escutar tagarelices, estar perfeita e completamente ocioso, perfeita e completamente indeferente ao destino do mundo é o mais excelente remédio que um homem pode administrar a si mesmo. a cultura livresca esvai-se gradualmente; os problemas fundem-se e dissolvem-se, os laços são suavemente cortados; pensar, quando nos dignamos dar-nos a esse luxo, torna-se muito primitivo; o corpo transforma-se num instrumento novo e maravilhoso; olhamos para plantas, pedras ou peixes com olhos diferentes; perguntamo-nos o que pretende as pessoas realizar com as suas actividades frenéticas; sabemos que está a travar-se uma guerra, mas não fazemos a mínima ideia porquê nem percebemos porque que motivo gostam as pessoas de se matar umas às outras; (...)quando estamos bem com nós mesmos, não importa que bandeira ondula sobre a nossa cabeça, ou quem é dono do quê, ou se falamos inglês ou monongahela. a ausência de jornais, a ausência de notícias acerca do que os homens estão a fazer em diferentes partes do mundo para tornar a vida mais suportável ou insuportável é a maior das dádivas. se pudéssemos pura e simplesmente eliminar os jornais, estou certo de que isso constituiria um grande avanço. os jornais engendram mentiras, ódio, ganância, inveja, desconfiança, medo, maldade. nós não precisamos da verdade como ele nos é servida nos jornais diários. precisamos de paz, solidão e ociosidade. se pudéssemos fazer todos greve e, sinceramente, negar todo e qualquer interesse naquilo que o nosso vizinho está a fazer, poderíamos conseguir novas esperanças. poderíamos aprender a passar sem telefones, rádios e jornais, sem máquinas de qualquer espécie, sem fábricas, sem minas, sem explosivos, sem navios de guerra, sem políticos, sem advogados, sem produtos enlatados nem engenhocas, até mesmo sem lâminas de barbear, ou celofane, ou cigarros, ou dinheiro. isto é um sonho irreal, bem sei. as pessoas só fazem greve para obterem melhores condições de trabalho, melhores salários, melhores oportunidades de se tornarem alguma coisa diferente do que são'

'fazemos todos parte de uma imensa e encadeada máquina de assassinar'

'a paz não é o oposto da guerra, do mesmo modo que a morte não é o oposto da vida. a pobreza da linguagem, que o mesmo é dizer a pobreza da imaginação do homem ou a pobreza da sua vida interior, criou uma ambivalência absolutamente falsa. falo, claro, da paz que ultrapassa toda a compreensão. não existe nenhuma outra espécie. a paz que a maioria de nós conhece é apenas uma cessação de hostilidades, uma trégua, um interregno, uma acalmia, um intervalo - o que é negativo. a paz do coração é positiva e invencível, não exige quaisquer condições nem precisa de nenhuma protecção. é apenas. se é uma vitória, é uma vitória peculiar, porque se baseia inteiramente em rendição, numa rendição voluntária, sem dúvida.'

'ser livre (...) é tomar consciência de que toda a conquista é vã, até mesmo a conquista do eu, que é o supremo acto de egotismo. estar jubiloso é transportar o ego ao seu máximo cume e entregá-lo triunfantemente'

'REVOLUÇÂO. uma revolução à escala mundial de alto a baixo, em todos os países, em todas as classes, em todos os domínios da consciência. o combate não é contra a doença: a doença é um derivado. o inimigo do homem não são os micróbios, mas o próprio homem, o seu orgulho, os seus preconceitos, a sua estupidez, a sua arrogância. nenhuma classe está imune, nenhum sistema possui uma panaceia. cada um, individualmente, tem de se revoltar contra um modo de vida que não é o seu. a revolta, para ser eficaz, tem de ser contínua e inexorável. não chega derrubar governos, senhores, tiranos: cada um tem de derrubar as suas próprias ideias preconcebidas de certo e errado, bom e mau, justo e injusto. temos de abandonar as trincheiras arduamente disputadas em que nos metemos e sair para terreno aberto, e renunciar às nossas armas, aos nossos haveres, aos nosso direitos como indivíduos, classes, nações, povos. mil milhões de homens que procuram a paz não podem ser escravizados. escravizámo-nos a nós próprios com a nossa visão mesquinha e circunscrita da vida. é magnífico oferecer a própria vida por uma causa, mas os mortos não realizam nada. a vida exige que ofereçamos algo mais: espírito, alma, inteligência, boa vontade. a natureza está sempre pronta para preencher as lacunas deixadas pela morte, mas a natureza não pode fornecer a inteligência, a vontade, a imaginação para derrotar as forças da morte. a natureza restaura e repara, mais nada. ao homem cabe erradicar o instinto homicida, que é infinito nas suas ramificações e manifestações. é inútil evocar deus, assim como é vão responder à força com a força. toda a batalha é um casamento concebido em sangue e angústia, toda a guerra é uma derrota para o espírito humano. a guerra é apenas uma imensa manifestação, em estilo dramático, dos falsos, ocos e pseudo conflitos que diariamente têm lugar em toda a parte, até mesmo nos chamados tempos de paz. todo o homem contribui com a sua parte para manter a carnificina em acção, até aqueles que parecem manter-se afastados. estamos todos envolvidos, participamos todos, quer queiramos quer não. a terra é criação nossa e nós temos de aceitar os frutos da nossa criação. enquanto nos recusarmos a pensar em termos do bem do mundo e dos bens do mundo, de ordem mundial e paz mundial, assassinar-nos-emos e atraiçoar-nos-emos uns aos outros. isso pode continuar até à trombeta do juízo final, se desejarmos que seja assim. nada pode trazer um mundo novo e melhor, a não ser o nosso próprio desejo de que ele chegue. o homem mata por medo, e o medo é uma hidra. desde que comecemos a chacinar, não haverá fim para isso. uma eternidade não chegará para vencer os demónios que nos torturam. quem pôs lá os demónios? eis uma pergunta para cada um fazer a si mesmo. que cada homem sonde o seu próprio coração. nem deus nem o diabo são os culpados, e certamente que não são monstros tão insignificantes como hitler, mussolini, estaline e quejandos. certamente que não papões como catolicismo, capitalismo, comunismo.'

'estou farto de civilização e da sua progénie de almas cultivadas'

'o limiar subliminal da inocência'
'vómito petrificado de ódio'
'exaltação embriagada'
'estupefacção ébria'
'não-cor da morte'

o colosso de maroussi, henry miller


Fotografia: peter gowland

No comments:

archives